Não deve haver um único jornalista de imprensa escrita que não pense no futuro da profissão, na forma como se trabalhava há uns anos e como se trabalha hoje, na alteração profunda do modelo de negócio, com quebras sucessivas de receitas publicitárias e de vendas e uma migração de leitores para a Internet. É uma discussão com alguns anos, que vai ganhando cada vez mais peso e relevância entre quem escreve, quem edita e quem dirige jornais e revistas.
Desde o ano 2000, quando fui trabalhar para o jornal online “Portugal Diário”, do portal IOL, que olho para a Internet como uma plataforma sem limites, totalmente abrangente e democrática, que tem tudo para ser o espaço de acção dos jornalistas. Acredito que a informação branca tenderá a ser subvalorizada, em detrimento daquela produzida e editada por quem entende de jornalismo, por quem investe em notícias próprias, em ângulos criativos, por quem pensa de forma diferente, por quem vê mais à frente. O maior problema, sobretudo no mercado nacional, está em encontrar essas pessoas. Mas, pelos vistos, lá fora também.
O “El Mundo” perdeu ontem o seu director. Único director. Pedro J. Ramírez fundou o jornal em 1989 e irá liderá-lo até ao próximo domingo. Segunda-feira, será substituído pelo seu adjunto.
Por cá, nos últimos meses, por uma razão ou por outra, várias publicações e órgãos de informação viram sair os seus líderes, jornalistas de enorme valor que comandaram os projectos a tempos de glória, que conseguiram afirmar-se, diferenciar-se, construir projectos sólidos, reconhecidos, mas acabaram vítimas da actual conjuntura. Foram derrubados pelo desinvestimento publicitário, ou por questões políticas, saíram porque as vendas estavam em quebra, porque tiveram outros convites mais aliciantes ou, simplesmente, porque perceberam que estava na hora de virar a página. Acontece que todos eles, sem excepção, são profissionais de enorme valor, jornalistas com mais do que capacidade para empreender novos projectos, para repensar as publicações e órgãos onde estavam, para reestruturar jornais, revistas ou televisões que dirigiam. Falo com conhecimento porque trabalhei com quatro deles, gente a quem reconheço enorme valor e méritos, por quem tenho admiração e respeito intelectual.
Muito provavelmente, em Espanha, Pedro J. Ramírez irá em breve liderar outro projecto, onde terá sucesso, da mesma forma que teve sucesso do “El Mundo” depois de ter sido despedido da direcção do jornal que anteriormente comandava. E terá sucesso porque é um génio, porque percebe do modelo de negócio, porque tem uma percepção que me parece a mais correcta sobre o futuro do papel e do digital, dos tablets e dos smartphones. Terá sucesso porque é um dos melhores jornalistas do mercado. Nessa altura, provavelmente, as pessoas que entenderam abrir-lhe a porta de saída, ou que não fizeram tudo o que estava ao alcance delas para o segurar, irão olhar para trás e deitar as mãos à cabeça. É que jornalistas, editores, gente que escreve bem, há por aí aos pontapés, mas os homens que marcam a diferença, os cérebros, os visionários, esses, são muito poucos. Isto vale para Espanha como para Portugal, para os Estados Unidos ou para a China. Os grandes recursos humanos são a maior mais-valia que as empresas podem ter, e isso é muitas vezes esquecido.
Já tive várias vezes conversas com pessoas que estão na mó de baixo, desanimadas com a vida, algumas sem emprego, sem grandes perspectivas, sem um rumo definido, e a todas elas dei o mesmo exemplo: o Steve Jobs falhou muitas vezes e foi despedido, o José Mourinho já falhou muitas vezes, e foi despedido, isso não faz deles fracos, maus ou incompetentes. Falhar efectivamente ou falhar aos olhos dos outros faz parte da vida e do crescimento de todos. É preciso é que os que falham, mas têm valor, tenham sempre a capacidade, e possibilidade, de se erguerem e irem à luta, porque a vida e o trabalho, com eles, é muito melhor.
Aconselho a leitura deste artigo do André Macedo sobre o Pedro J. Ramírez e o futuro dos jornais e do jornalismo.
O jornalismo em Portugal é péssimo, do pior que se faz na Europa mesmo. E não digo isto com um tom simplista ou populista, mas é simplesmente incrível a mediocridade da nossa imprensa e da televisão.
Os contéudos são normalmente pouco inteligentes, mal escritos, repetitivos e completamente reduzidos a termos básicos para não “confundir muito o leitor”. Isto para não falar da loucura da cobertura dos acontecimentos políticos nacionais! Parece que não acontece outra coisa em Portugal, só política!
Eu antes assinava o Público e a Visão e actualmente desisti por completo de comprar imprensa nacional. Simplesmente não vale a pena o dinheiro. Vou as vezes ao site do Expresso e do DN para ler as gordas e pronto, fico com uma noção geral da coisa.
Por incrível que pareça, penso que as estações de rádio ainda conseguem oferecer algum tipo de programação inteligente e criativa. Sinceramente penso que os jornalistas portugueses deviam reflectir sobre o péssimo trabalho que andam a fazer.
O título do post lembrou-me a capa da “Rolling Stone” com o Papa Francisco. Até pensei que fosse sobre isso até começar a ler =P
Havia tanto para dizer sobre o jornalismo, sobre o futuro e sobre as injustiças. Muitas pessoas pensam que este é um mundo de sonho, com vidas fáceis e ordenados chorudos. Se soubessem metade do que realmente se passa…
Assusta-me o futuro da minha profissão. Mas prefiro lutar por algo do que me entregar a este medo constante.
homem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt
Como disse e bem um amigo meu, “hoje em dia, só quem é bom se pode dar ao luxo de ser despedido”!!!…
O papel vs digital, pago vs gratuito, é tudo uma luta que ainda não se sabe muito bem onde vai dar.
Mas temos de ter fé que vai ganhar a qualidade, seja em que formato for.
http://www.prontaevestida.com