Ao longo de toda a pré-época nem por uma vez me senti verdadeiramente preocupado com o Benfica. Apesar de ser um benfiquista apaixonado, acho que consigo viver o futebol de forma muito racional, talvez por ter trabalhado alguns anos como jornalista desportivo, e sinto que consigo analisar o que se vai passando de forma isenta e fria. O ano passado, quando toda a gente estava a deprimir com a pré-época do Benfica, cheia de derrotas e com uma goleada pesada frente ao Arsenal, estive sempre muito confiante e achei sempre que quando as coisas começassem a sério a equipa iria reagir de forma diferente e mostrar-se.
Este ano as coisas foram um bocadinho diferentes. O Benfica já não tem lá Jesus, tem um treinador novo, que eu continuo sem saber se é bom, se é só mais ou menos ou se é fraquinho. Desde que Rui Vitória foi contratado que digo que não tenho elementos suficientes para o avaliar. Na época passada não vi jogos suficientes do Guimarães para perceber se a equipa jogava alguma coisa, e o lugar que ocupou na classificação final significa, para mim, muito pouco. O Paulo Fonseca já conseguiu levar o Paços de Ferreira à Europa e não é por isso que é um grande treinador. O Jaime Pacheco já foi campeão pelo Boavista, o Inácio foi campeão pelo Sporting 18 anos depois do último título e nenhum dos dois é bom treinador. Ou seja, eu preciso de ver mais Benfica, mais minutos, muita bola a correr, muitos jogos de campeonato, em casa e fora, preciso de ver a equipa em situações muito diferentes — contra equipas pequenas que jogam fechadas, contra equipas de topo, em jogos de grande pressão, em jogos em campos enlameados em que é difícil jogar — ou seja, preciso de alguns meses para tirar conclusões. Os jogos de pré-época não servem para isso, nem dão para isso, são apenas treinos coletivos em que é preciso experimentar jogadores, dar minutos a todos, prepará-los fisicamente, dar-lhes ritmo, e os resultados dos jogos importam muito pouco.
Ao fim destes dois meses e meio continuo sem saber o que vale este Benfica e o que vale Rui Vitória, precisamente por tudo o que já disse. O jogo com o Estoril foi uma amostra fraca. Para mim, só deu para perceber que o Benfica não é aquela equipa medíocre dos primeiros 70 minutos, nem é a equipa avassaladora dos últimos 20. Neste momento, o Benfica é qualquer coisa ali no meio entre a equipa que jogou muito pouco até ao primeiro golo, e jogou muito depois desse golo. Como costumo dizer aos meus amigos benfiquistas, lá para Janeiro já me podem perguntar o que acho do Rui Vitória, porque já vou ter elementos para formar uma opinião.
Também não acho justo comparações com o Benfica que Jesus herdou quando chegou à Luz. Rui Vitória pegou numa equipa retalhada, com a missão de formar miúdos, com um orçamento baixo, e (ainda) sem grandes reforços. Jesus pegou no Benfica na fase mais rica do clube, com dinheiro, investimento, e sem a preocupação de apostar na formação. Jesus tinha um Benfica com Coentrão, Luisão, Máxi, David Luiz, Matic, Javi Garcia, Ramirez, Di Maria, Aimar, Saviola ou Cardozo, Rui Vitória tem um Benfica com Nélson Semedo, Lisandro, Luisão (com 34 anos), Eliseu, Fejsa, Taraabt, Carcela, Mitroglou, Ola John ou Raul Jiménez.
Nada de dramatismos, nada de euforias. É esperar, e ver. As contas fazem-se no fim.