Mumford

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Nunca fui viciado em música, e sempre me assumi como um leigo na matéria. Não tive grande educação musical – na minha casa lia-se muito mais do que se ouvia música – e, na escola, também nunca liguei àquelas bandas que os meus colegas ouviam. Desde os meus 12 ou 13 anos que comecei a ouvir aquelas que são, ainda hoje, as minhas maiores referências, Depeche Mode, Queen, Elvis Presley e Sérgio Godinho. Fui descobrindo uma série de outras coisas de que ia gostando, mas nunca me viciei numa banda ou num artista, que não os que já referi. Ajudava o facto de não adorar concertos. Nunca fiz aquelas loucuras dos miúdos, de irem para filas de concertos, de chorarem por bandas, de fazerem viagens para irem ver os seus ídolos.

Fui crescendo desatento à evolução musical. Claro que passei pela fase dos Dire Straits, dos Metallica, dos Nirvana, claro que me pus a ouvir coisas estranhíssimas como Rabih Abou-Khalil, Kiri Te Kanawa ou Astor Piazolla (que ninguém conhecia), e isso fez com que perdesse as tais referências que hoje façam com que me sinta musicalmente muito pobre.
Para o contrariar, tenho feito um esforço para acompanhar o que se vai passando neste mundo, tenho estado atento a bandas novas, a coisas que vão aparecendo nos maiores mercados, mas, ao mesmo tempo, tenho feito umas viagens no tempo para tentar perceber fenómenos e grandes bandas do passado.

Há uns meses dediquei-me a descobrir Bob Dylan. Conhecia um ou outro clássico, nada de mais, mas faltava-me alcançar a profundidade da obra. Durante muito tempo, era a música dele que me acompanhava nos passeios com o cão, o que levava a muitas bocas por parte da minha mulher, que faz questão de não gostar de qualquer coisa de que eu goste. Para ela, tudo o que eu ouço é mau. Basta eu gostar para ela torcer o nariz. Eu adoro ouvir a Luísa Sobral, ela diz que a moça parece o sapo Cocas, eu adoro o Bob Dylan, ela diz que a música dele é só “nhe-nhe-nhe, nhe-nhe-nhe, como o Johny Cash” (é a expressão exacta dela, sendo que eu também gosto de Cash), escusado será dizer que os músicos portugueses de que mais gosto – Sérgio Godinho, Fausto, Zeca Afonso ou João Afonso – ela odeia. Salvam-se algumas do Jorge Palma, B Fachada, Ornatos Violeta e os Deolinda.

Curiosamente, uma das minhas últimas “descobertas”, Bon Iver, contagiou-a, ao ponto de a ter conseguido levar ao concerto. A mais recente de todas coincide com a vinda da banda a Portugal: Mumford & Sons. Foram considerados a melhor banda do mundo em 2012, depois de o segundo disco, o “Babel”, ter sido número 1 de vendas nos mercados americano e britânico na semana de lançamento, e são capa da última edição da Rolling Stone, que só deve chegar cá daqui a uma semana. Enquanto não leio, ouço. Estou agarrado.

1 Comentário

  1. Abdiquei da viagem de finalistas para ir ao concerto no coliseu, e, peço desculpa pela expressão, fodi-me por caido na ilusão de achar que não ia esgotar meses antes. Esgotou e eu sem bilhete. Mumford é sem dúvida das minhas bandas de referência, e, foi a banda que me fez morrer de paixão por folk, quer seja do puro e duro, quer seja do indie folk. Aconselhado para um passeio de bicicleta, ou mesmo a pé. Baaaah, é tão bom que podia ficar aqui a noite inteira a debitar-lhes elogios.
    Aconselho também Beirut, King Charles e Selah Sue (esta última não é folk, mas é tão bom que era impossível não a mencionar).

  2. Mal porquê? Fica mal dizer a verdade. Não percebi. Ou fica mal porque ela nao pode nao gostar de músicos de referencia… Gostos nao se discutem.

  3. Mumford&Sons, são qualquer coisa de inexplicável. Vi-os no sábado, no Coliseu e ainda estou meia "embriagada", com o show que deram. O público foi incansável, sabia as letras todas e dançou que se fartou. Nos tempos que correm, aquela 1h30 de concerto, deu para esquecer crises, troikas, desemprego e afins.

    A banda compõe e canta músicas alegres e de forte componente espiritual…Se nunca reparou,Arrumadinho, leia algumas e atente nas referências. Abundam ainda diversas referências a Shakespeare.
    Há dois anos que ouço tudo o que eles cantam, e espero ouvir mais e mais. É um excelente folk, e vicia qualquer um (:

    Quanto ao seu restante gosto musical: irrepreensível,até à Luísa Sobral…não vou lá muito à bola com ela. ahaha
    E deixe lá, que eu 14 anos já ouvia Piazolla, e tinha sempre quem me perguntasse se era um rapper novo.

    Mais um post cinco estrelas (:

  4. Arrumadinho, foste ao concerto? Foi tão mas tão bom… Prometeram regressar e espero que cumpram porque aqueles tipos ao vivo são muito bons 🙂

  5. "escusado será dizer que os músicos portugueses de que mais gosto – Sérgio Godinho, Fausto, Zeca Afonso ou João Afonso – ela odeia."

    Fica tão mal dizer isto.

  6. Ainda me lembro de tanto ouvir Munford com Bon Iver e muitos dos meus amigos dizerem que era "musica à minha moda" o que querem dizer com isto é que ninguém ouve. Agora, mais de 2 anos depois toda a gente lhes beija os pés. Eu gostava muito que as pessoas apreciassem a musica pelo que ela é e não por estar na moda.

  7. Caro anónimo, se tivesse lido o texto com um pouco de atenção, perceberia que o que escrevi está contextualizado. É só juntar 2 + 2. Eu não tenho de escrever como se do outro lado estivesse gente burra. Eu escrevi que ouvia Piazzolla na fase em que ouvia Nirvana, Metallica, bandas que estavam na berra no início dos anos 90, logo, quando eu tinha 15 ou 16 anos. Às vezes, não basta ler. É preciso fazer um ligeiríssimo esforço para tentar entender o que se lê. Mas a ânsia de criticar é muitas vezes tão grande que não nos deixa espaço para raciocinar.

  8. Então deveria ter contextualizado a dizer exactamente isso, porque "ninguém conhecia" diz exactamente isso, e não "que ninguém do meu bairro com 15 anos conhecia".
    Tenha a humildade de aceitar as chamadas de atenção ao que diz. Já reparou que nunca o faz?

  9. Lamento, mas quando tinha 15 anos, quand não havia internet, nem acesso a discos com a facilidade com que há hoje, nem sequer dinheiro para os comprar, o nome de Piazzolla não era propriamente badalado entre os putos do meu bairro.

  10. Depeche Mode é muito, mas muito bom! Eu já tenho o bilhete para os ir ver no Optimus Alive e tenho a certeza que vai ser um grande concerto, afinal são os Depeche, e a verdade é que a idade não os atrapalha em nada, de certeza que vão arrasar!

  11. hummmm fraquinho…
    Astor Piazola que ninguém conhecia?! ninguém da sua sua rua ou bairro ou escola… piazola é só um dos compositores de tango mais importantes do século XX.
    toda a gente conhece, mesmo os que não conhecem conhecem Piazola.

  12. Vi-os pela primeira vez no Optimus Alive o ano passado e adorei! Eles são tão bons, mas tão bons que estou morta de inveja de todos os que vão ao concerto no sábado! Quando dei por ela já não havia bilhetes 🙁

  13. O que eu sinto muitas vezes é que não estou aberta a novas experiências musicais, por assim dizer! Gosto muito dos clássicos mais antigos (como Queen, Aerosmith, Rolling Stones, Guns and Roses, Pearl Jam, Nirvana e por aí fora) e em coisas mais recentes fico-me muito por Muse ou os já separados Oasis. Parece que me sinto um pouco presa às minhas bases e não ouço muito além disso, mas gostava de ouvir mais coisas diferentes e, acima de tudo, de gostar. Gosto de concertos e vibro completamente com o ambiente, mas mesmo nesses fico-me sempre pelo que já conheço, pelo seguro. Assim que vi esta "sugestão" resolvi dar uma oportunidade. Fui logo ouvir e adorei! ADOREI mesmo! Acho que era este estilo que estava mesmo a faltar na minha "biblioteca musical". Sempre que tiver sugestões assim partilhe! Obrigada!

  14. Se gostas de Mumford tens que ouvir os Lumineers! O album nao é grande mas é absolutamente viciante, oiço em loop varias vezes..e tem piada, ambas as sonoridades me transportam para o ambiente do filme PS I Love You, tal como a Filipa Marques! Imagino logo aqueles bares onde o Gerry cantava..

  15. Sem duvida uma excelente banda. Daquelas que me faz acreditar que ainda se faz música boa. Se me permite deixo-lhe algumas bandas/músicas actuais (James Blake – Retrograde) não consigo parar de ouvir, (Of Monsters and Men – Mountain Sound), (JUBA – Bloodvessels) é uma banda portuguesa, (Generationals – Put a Light On) e (Beach House – Lazuli). São géneros que de alguma forma se associam aos Mumford.
    Continuação de bons posts.
    Admiro muito a sua forma de escrever.

  16. No meu caso, Mumford foi uma agradável surpresa no Optimus Alive do ano passado. Na altura comprei bilhete para ver Florence And the Machine que infelizmente cancelaram, fiquei desolada. Acabei por ir na mesma e o concerto deles foi um dos melhores que já vi. Fiquei fã e lá estarei no concerto daqui a uns dias.
    Mariana

  17. Mumford and Sons é o exemplo de uma banda que soube pegar num estilo musical tradicional, com uma história memorável – o folk – e explorar novos caminhos, reciclando-o e adaptando-o a uma temática contemporânea de uma sonoridade muito interessante.

    Em Portugal, temos também artistas de uma nova geração que estão a fazer o mesmo com o fado, de forma extraordinária. Vale a pena divulgá-los também.

    Caso queiram ler mais divagações e sugestões musicais e não só, visitem: alagardere@blogspot.pt

    E já agora, parabéns pelos teus textos sempre interessantes, Arrumadinho.

  18. Há uns tempos, quando bateram o recorde de vendas nos Estados Unidos e Reino Unido falei deles no meu blogue. São uma banda a seguir. São do melhor que ouvi nos últimos anos.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

  19. Um conselho: pesquisa as bandas que aparecem nos cartazes dos festivais! De certeza que encontras algo de que gostes… E mesmo que não gostes ficas a conhecer 🙂

  20. Como compreendo! Gosto de música e de certas músicas, mas
    sempre me senti meio excluída por não entender a febre dos concertos, não compreendo o que leva alguém a querer ouvir música que mal se ouve no meio de pessoas inquietas aos berros, com pisadelas nos pés etc etc. Prefiro quinhentas vezes ouvir a música no conforto do meu lar, do que poder estar a meia dúzia de metros de mega star no mundo da música! Raramente aquela vibração toda com o público me afecta em sentido estridente-o-positivo! Mas admito que há excepçoes!

    Quanto ao argumento de socializar com os amigos, há lugares onde se pode socializar tão melhor!

    I Will Wait dos Mumford faz me lembrar Needtobreathe (que eu conheci na OST do filme PS I Love) – nao tem nada a ver, mas ha ali qq coisa que me lembra…

    http://www.youtube.com/watch?v=sy0fIyongdI

    Filipa Marques
    http://jornalanoite.blogs.sapo.pt/

  21. Descobri esta banda à relativamente pouco tempo e adoro, adoro, adoro!
    Quando ouço a música "i will wait" tenho o meu momento de felicidade…

  22. Ao ler o texto revi-me no sentido de também eu me sentir musicalmente pobre. A verdade é que, tal como tu, sempre fui muito mais agarrada aos livros. Com excepção daquilo que vou ouvindo no rádio, poucas são as bandas emergentes que conheço. Bem sei que descobrir novas bandas é um exercício cultural, mas ainda não me habitueia chegar ao youtube e ir procurando, explorando,enfim… Ainda assim, adoro ouvir música e descobrir músicas que, por ignorância, não sabia que gostava.
    http://www.letirose.com

  23. Adoro…."descobri-os" há cerca de três anos quando fui a Inglaterra passar uns dias a casa de um primo….eles la ouvem imensa musica Britânica e eu mal ouvi fiquei rendida…claro esta…vim para Portugal e tive de esperar um tempinho para que alguém começasse a saber de quem e que eu tanto falava e finalmente a passarem na radio x)

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