Desabafo de um benfiquista triste

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No dia 26 de Maio deste ano, após a derrota na final da Taça frente ao Guimarães, escrevi isto sobre o Benfica: “O líder perdeu a mão, e quando o líder perde a mão tem de ser substituído. Com esta derrota, Jorge Jesus perdeu o respeito dos adeptos, mas também dos seus próprios jogadores. Deixou de ter força, voz, e, sem isso, não poderá liderar um grupo de homens que não o quer seguir. A derrota contra o Guimarães e tudo o que se seguiu após o final do jogo deixaram Jesus demasiado fragilizado para que possa continuar a treinar o Benfica, independentemente de eu achar que ele é um óptimo treinador. Mourinho também o é, e saiu do Real pelas mesmíssimas razões: foi arrogante o ano todo, e, no final, não ganhou nada. Continua a ser um dos melhores treinadores do mundo, mas perdeu o balneário, e quando se perde o balneário e a confiança dos adeptos só se pode sair do clube”.

Na altura, muita gente me criticou porque, umas semanas antes, havia escrito que o Jorge Jesus era um grande treinador, e que gostava muito que ele continuasse no Benfica. Era verdade. E, em parte, continua a ser: para mim, Jorge Jesus é um bom treinador. Mas por vezes isso não chega, porque o futebol não é matemática e os homens não são robôs, são seres humanos, com sentimentos, com dramas psicológicos, com crises anímicas, com falta de confiança. O efeito psicológico no desporto é interessantíssimo e muitas vezes é o que separa um campeão de um derrotado. Vê-se isso no ciclismo, no atletismo, no ténis e também no futebol.

O Benfica do ano passado foi muitas vezes brilhante. E os jogadores que lá estavam são os mesmos que estão agora no clube, mas que jogam de forma miserável. O treinador também não mudou, nem sequer a direcção. Então o que é que está diferente? O ânimo, a confiança e, também, algumas opções técnicas.

Quando o Benfica perdeu no Jamor, e quando Cardozo fez o que fez a Jesus, percebi imediatamente tudo o que se iria passar caso ele não saísse. E o que se iria passar é isto mesmo que está a acontecer. O balneário do Benfica está farto de Jesus, cansado do seu líder, já não o respeita, não o ouve, não o quer ali. E nada do que ele possa fazer irá alterar isso. Se o Benfica já ganhou alguns jogos este ano deve-o exclusivamente aos jogadores, ao seu brio e a alguma auto-estima. Não o deve a Jesus.

Luís Filipe Vieira disse há umas semanas na entrevista à Benfica TV que não irá despedir Jesus, porque o maior erro que cometeu no Benfica foi quando despediu Fernando Santos no início de uma época, que se revelou desastrosa. Mas não me parece que Vieira tenha grandes opções. Basta olhar para tudo o que a equipa tem feito desde o início de Julho, altura em que começou a trabalhar.

O jogo de hoje em Paris não foi apenas um passeio para os campeões franceses, foi uma triste humilhação para todos nós, benfiquistas, foi o tocar no fundo de um poço em que estamos mergulhados e do qual só poderemos sair com um novo líder, alguém que traga sangue novo, ânimo, que devolva aos jogadores a confiança que eles perderam. E ainda vamos a tempo. Daqui a um ou dois meses, já tenho sérias dúvidas.

No Parque dos Príncipes, Jesus insistiu num erro que teima em não corrigir: Enzo Pérez foi o grande motor do Benfica do ano passado a jogar no centro do terreno; Matic consagrou-se como um dos melhores médios do mundo a actuar na posição 6. Foram eles o pilar do Benfica que deu um banho de bola ao Chelsea no ano passado. Este ano, Jesus insiste em deslocar Enzo para o lado direito, e em colocar Matic a jogar na posição 8. Está a desfazer, propositadamente, o que de melhor a equipa tinha no ano passado. Markovic, por outro lado, actuou 20 ou 30 minutos como extremo-direito contra o Sporting. Marcou um golo de sonho e ia fazendo outro igual. Desde então, não mais voltou a jogar naquela posição – joga sempre à esquerda. E, sinceramente, duvido que haja algum benfiquista que perceba isto, que perceba como é que se mata o nosso distribuidor de jogo, o nosso cérebro, colocando-o a extremo apenas porque não há mais ninguém, quando no início do ano resolvemos emprestar o Pizzi, que tanto jeito dava, e continuamos a ignorar o Ivan Cavaleiro, por exemplo, craque das selecções jovens e o melhor jogador do Benfica B.

Enfim, são tantos erros, tantos disparates, tanta mediocridade, tanto desperdício de talento que só nos faz ter pena daquilo que vemos. E todos sabemos o que significa ter pena. E isso, sim, é uma pena.

PS: Só para que conste, hoje vi apenas a primeira parte do jogo com o PSG. Depois, preferi ir fazer o jantar e comer tranquilamente com a família na sala de jantar, com a televisão desligada e a falar de tudo menos de bola. Desisti. Logo eu, que nunca desisto.

11 Comentários

  1. Isso seria fantástico para o Benfica, mas não imagino o Marco, treinador e homem que parece ser a abandonar o Estoril agora..nem ele nem o Rui Vitória, que penso serem as melhores opções para o Benfica..

  2. Sou uma jovem de 21 anos mas benfiquista desde que me conheço. Sou sócia e o Benfica é, desde sempre, o meu grande amor. Lembro-me do orgulho com que fiquei do meu Clube o ano passado, das lágrimas que deitei, dos pulos que dei. Apesar de tudo, foi uma época cheia de emoção, de fanatismo, de esperança. Vi os adeptos e os sócios acompanharem o Clube de uma forma nunca antes vista. Os estádios enchiam, os aeroportos enchiam, os treinos enchiam e a equipa brilhava e elevava a moral. Mas tudo isso terminou, não no dia da derrota com o Porto, nem no dia da derrota com o Chelsea (em que fomos gigantes!) mas sim no momento em que o Cardozo teve a atitude que teve. As semanas seguintes foram cruciais e nada aconteceu. Ficaram os dois. O Treinador, que perdeu o respeito de todos os outros. E o jogador, que desrespeitou o líder e que, por isso, deveria ter sido punido de outra forma.

    Agora os jogadores não respeitam o treinador. A maior parte deles não tem motivação. Alguns daqueles que deram grandes momentos aos adeptos o ano passado estão no banco. E temos uma equipa infestada de sérvios que simplesmente se andam a arrastar dentro de campo sem qualquer tipo de força psicológica para lutar pelo que quer que seja.

    O empate com o Belenenses deixou-me triste. Mas o jogo de ontem em Paris foi um desalento total. O Benfica não deu nada, mas mesmo nada. Os jogadores andavam confusos. A tática não resultava. O Jesus não fazia alterações. Aconteceu o que todos esperavam.

    Perdi a vontade de ver o jogo. Coisa que já não me acontecia há imenso tempo. Deixei de sentir aquele frio na barriga.
    Onde está o meu Benfica?

    Concordo inteiramente consigo relativamente à situação do Enzo e do Matic. Só o treinador é que não percebe que daquela forma as coisas não resultam tão bem?
    Mas o problema não é só ali. Os jogadores andam perdidos, andam confusos, passam até a ideia de nem saberem bem onde é o lugar deles…

    Além disso, agora temos uma nova questão chamada Cardozo. Nada faz, mas o Jesus, por teimosia sua, continua a enfiá-lo no onze, deixando um jogador como o Lima a aquecer o banco.
    Os jogadores revoltam-se, perdem a moral, desmotivam-se. É normal.

    Já previa que os adeptos fossem esperar a equipa ao aeroporto. Já esperava os assobios, as críticas, as desvalorizações.
    Agora espero que o Presidente deixe de proteger o Jesus e comece a proteger o seu Clube, os seus sócios, os seus adeptos.

    Está na hora do Jesus ir embora. A alternativa? Marco Silva.
    E por falar em Marco silva, no fim-de-semana temos um Estoril que me assusta bastante.

    Veremos o que nos espera.

    Apesar de tudo isto, o meu Benfica é o meu Benfica. E este amor será eterno.

  3. E está tudo dito! Eu vi o jogo até ao fim, porque apesar de tudo é o meu Benfica, mas confesso que foi penoso. Metia pena ver aqueles jogadores sem confiança, sem alegria, sem motivação. Algo tem de mudar e tem de mudar rápidamente, antes que seja tarde demais.

  4. Repara que o ano passado o treinador dizia que queria ganhar em Barcelona. E Esteve perto disso. Agora, diz não ter capacidade para o PSG.

    Acho que uma derrota no Estoril leva o Marco para a Luz.

    O Benfica precisa de um novo líder.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

  5. Depois destes anos todos, destes erros todos, de tamanha demonstração de incompetência, continuar a achar que JJ é um bom treinador é grave.

    JJ é o maior bluff do futebol português.

    Arrumadinho, diz-me, nestes 4 anos, duas vezes que o SLB tenha ganho um jogo “grande” por mão de JJ. Ganhou um, por isso peço dois exemplos. 😉

    JJ tem que sair mas Vieira tem que sair com ele. São 12/13 anos disto. Se os benfiquistas ainda não perceberam onde estão metidos nunca vão perceber.

  6. O futebol como desporto não me fascina particularmente, mas interesso-me bastante pelo jogo psicológico e a forma como o mesmo afecta os resultados finais.
    Tenho para mim que, ao contrário do que se diz, o benfica atingiu 100% dos objectivos em que se focou.
    E quais eram eles? Chegar às finais.
    Toda a motivação, todo o discurso, era esse. Chegar às finais.
    O universo ouviu e recompensou em correspondência.

  7. eu acho que este benfica está excelente, uma comédia, como sempre! o ano passado ri muito no fim, este ano está a dar para rir desde o início 🙂

  8. Ser benfiquista é isto meu caro amigo!
    Como disse ontem o Manuel José (treinador de futebol), o benfica tem um problema psiquiátrico.
    Eu concordo e discordo, porque penso que não seja o benfica (clube/instituição) a ter esse problema, mas sim quem o dirige, por exemplo LFV (presidente) e também o incendiário Rui Gomes da S*lva (comentador na sic noticias e membro da direcção). Só me lembro destes dois senhores, porque são os que mais falam e menos ganham!
    Estes dois senhores, estão constantemente a colocar as culpas das derrotas nos árbitros, no apito dourado e em coisas que se passaram à 30 anos no futebol. Enquanto não se tratarem deste problema de inferioridade relativamente ao FCP, os jogares nunca vão acreditar no projecto que tentam implementar no clube!!!
    Vocês têm pensamento pequeno…
    E o vosso treinador (JJ), mais uma vez não assumiu a derrota, dizendo por exemplo que jogaram mal. Só soube dizer que o PSG é uma grande equipa, que vai ficar em 1º no grupo, que o 2º lugar vai ser para o slb ou para Olympiakos, etc…
    Digo mais uma vez, pensamento pequeno. Já deitaram a toalha ao chão relativamente ao 1º lugar do grupo.
    Mas continuem sempre assim meus amigos….
    Queixem-se muito, que nós assim ganhamos muito 🙂

    Cumprimentos Portistas,

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