As várias datas do “Desamor”

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Depois de ter publicado parte de um capítulo do livro, muitos foram os que deixaram comentários (aqui e no Facebook) com dúvidas sobre o livro, a publicação, a sessão de autógrafos e a apresentação. Na verdade, é tudo um pouco confuso, porque são quatro datas diferentes.

Então, é assim.

6/7 de Junho (5ª e 6ª)  é possível que o livro chegue a algumas livrarias. Não a todas. Se não o encontrarem nesta data, é normal.

10 de Junho há uma sessão de autógrafos, às 17h, na Feira do Livro de Lisboa, no stand da Leya. Aqui, haverá livros para todos, em primeira-mão, e com dedicatória especial feita por mim. Por isso, se quiserem ser os primeiros a ter o livro em mãos, e logo assinado, podem aparecer no último dia da feira. Meia-hora antes, a minha mulher estará no stand da Matéria-Prima a autografar o livro dela, por isso, se o têm, podem passar por lá a recolher um autógrafo. Se não o têm, podem comprar por lá.

11/12 de Junho (3ª e 4ª)  o livro deverá estar em todas as livrarias do país, bem como nos principais hipermercados.

18 de Junho (3ª) apresentação do livro, às 18h30, na Fnac do Colombo. Aqui, estarei eu, a Margarida Rebelo Pinto e a protagonista da história que pré-publiquei no blogue. Faremos, a três, a apresentação do livro.

Como é óbvio, faço muito gosto em que estejam todos presentes.

Tentarei, o quanto antes, fazer uma apresentação do livro no Porto. Queria muito fazer outra na zona centro (Coimbra ou Leiria) e uma a sul (Faro), mas isso dependerá do questões logísticas que não dependem exclusivamente de mim.

Deixo, para já, um convite para que todos apareçam no lançamento oficial do livro, a 18 de Junho.

Seja bem-vindo quem vier por bem.

22 Comentários

  1. Impressionante! Eu acredito!
    Acredito em Deus e acredito no amor imortal. Afinal, o que é Deus senão amor? Amor profundo e imutável?
    Acredito e penso que se quisesse escrever um livro sobre o que se passou consigo seria um livro muito belo. Pense nisto.
    Rui.

  2. Eu acredito, quero acreditar.
    É uma história comovente e dava um lindo livro, mais bonito do que tanta mistela que se vê por aí.
    Admiro-me que não escreva um livro desta história tão bonita que até chorei.
    Obrigada pelo que me fez ler.
    Márcia.

  3. (continuação e final)
    Juntamente com a sua presença e conquanto a noite não fosse particularmente quente, senti uma onda de frio envolver-me.
    Era belíssima, deslumbrante e instintivamente soube que era, ou fora uma criatura meiga e doce. E as palavras saíram-me comovidas, mas com naturalidade:
    – Disse-me que sempre a amou e levou-a no coração.
    Sorriu e numa voz doce e meiga, disse:
    – Obrigada. Leve-me a casa.
    Tenho de explicar uma coisa. Não falávamos directamente, quero dizer; eu falava mas ela não. Era como se a ouvisse através da mente, era como se pensando, os pensamentos se tornassem em sons audíveis para mim.
    E subitamente, sem que soubesse como acontecera, estávamos dentro do carro. Soube imediatamente o que deveria fazer, soube que tudo aconteceria naturalmente e sem mistério, que o carro ia andar normalmente, como de facto andou, e sobretudo soube para onde me devia dirigir a fim de a levar a casa, tal como me pedira. Assim não me surpreendeu dar ao arranque e o carro pegar, acender as luzes e inverter o sentido de marcha e em vez de ir para o Lobito, ir para Benguela, para a casa dela. Como se fosse dirigido telepaticamente, fui sem desvios nem atalhos nem quaisquer hesitações, direitinho ao cemitério, onde, aliás, nunca fora nem conhecia a sua localização.
    Antes, e devido ao imenso frio que se fazia sentir dentro do carro, cobrira-lhe os ombros com o meu casaco de cabedal que a minha mulher me oferecera há dois meses.
    Parei a entrada dos dois portões em ferro da entrada, ela desceu e com uma majestade de rainha, caminhou até à entrada, subiu os três degraus da entrada, voltou a cabeça na minha direcção, dedicou-me um lindo sorriso e depois, sem que os portões se abrissem, desapareceu para dentro do cemitério.
    Cheguei tarde da madrugada a casa, a minha mulher já estava preocupada e contei-lhe o que se passara. Após as naturais conversas sobre o insólito, resolvemos, eu e a minha mulher, ir nessa manhã até ao cemitério de Benguela e tentar saber, nem nós sabíamos o quê. Ir ao cemitério, simplesmente.
    Chegámos, penetrámos nele e sem quaisquer hesitações dirigi-me para a sua campa coberta de flores, onde na lápide a bela foto sorria e sobre o mármore o meu casaco repousava.
    Peguei nele, rezámos, eu e a minha mulher uma oração por ela e viemos embora.
    Nunca mais soube nada dela, os acontecimentos seguintes levaram-me a emigrar e esta história caiu no esquecimento, até hoje que resolvi contá-la.
    Penso que o facto de ela se ter suicidado lhe vedou o acesso ao Céu, e a possibilidade de conhecer os derradeiros pensamentos do seu amor. Sempre pedi a Deus nas minhas orações que a paz e a tranquilidade lhe fossem agora permitidas. Acho que sim. E que lá no Céu se encontra ao lado do seu amor desfrutando a presença que lhe foi negada na terra.
    Termino como principiei. Acredite quem quiser, mas lembrem-se sempre. Mais forte do que a Natureza e os imponderáveis do Destino, é o Amor.
    Não há porta que o Amor não abra, mesmo a da morte.

  4. Ccontinuação)

    E quando ouvi isso pela primeira vez, soube que se tratava dela, a rapariga a quem me fora encarregue de dar a mensagem do namorado à hora da sua morte. Fiquei perturbado e falei com a minha mulher. Nunca lhe falara no que ocorrera entre mim e o rapaz, aliás, o tema guerra era assunto que, se por um lado todos à sua maneira o viviam intensamente, por outro era tão normal como o respirar e ninguém o referia verdadeiramente. Falei com ela e contei-lhe o que se passara com a morte do rapaz, do que ele me incumbira à hora da sua morte e do que ouvia agora contar sobre a Senhora de Branco. Ela ficou perturbada, naturalmente, e aconselhou-me que deixasse as coisas nas mãos do Destino, que não comentasse nada com ninguém que o que sucedesse sucederia, ou não. Dei-lhe razão e um beijo, e dado os meus trinta e dois anos e os vinte e oito dela, e sobretudo o nosso grande amor, passámos num ápice a assuntos para nós muito mais importantes.
    Mais ou menos um mês depois, numa sexta-feira, por volta das onze de uma noite muito escura, eu deixara o acampamento e encontrava-me ao volante do meu carro a caminho do Lobito, cidade onde alugara casa ao chegar e na qual habitava. Não percorrera um quilómetro quando o meu carro parou por falta de energia. As luzes desapareceram e o motor morreu. Estranhei, sobretudo porque o carro era praticamente novo, mas estranhei foi a falta de energia total, nem sequer para acender quaisquer sinais indicativos interiores. Nenhuma corrente. Atribui o facto a um cabo que eventualmente se soltara da bateria, embora o achasse muito improvável, mas o único possível para a ausência total de corrente eléctrica. Como ele avariara em andamento, tive de o empurrar para a berma da estrada e preparei-me para abrir a capota do motor.
    No momento que me debruçava para a abrir, antes de lhe distinguir a figura senti-lhe o perfume e dei pela presença feminina ao meu lado, trajada de noiva envolta por uma luminosidade que não sei descrever. O que era verdadeiramente estranho, embora na ocasião não conjecturasse nada e só mais tarde me apercebesse, é que mesmo não sendo grande o trânsito a essas horas da noite, os raros carros que passavam de nada se apercebiam. Circulavam normalmente como se ali não se passasse nada nem vissem o meu carro avariado na berma da estrada.

    (continua)

  5. Olá Ricardo. Sem desprimor para o teu livro que vou comprar logo que saia, estou curiosíssima para ver o final da história do anónimo sobre o rapaz morto na guerra e da noiva que se matou, e peço ao anónimo que faça o favor de vir contar o resto porque a minha curiosidade é enorme.
    Obrigada.
    Marta.

  6. Olá, Ricardo. Vou a Portugal na primeira quinzena de Julho e não regresso à África do Sul sem o teu livro… tenho uma colega luso-descendente que adorou o texto que publicaste há dias e serás, em princípio, o primeiro autor que ela vai ler em português. É o meu «agradecimento»! Vanessa

  7. (continuação)

    O tempo foi passando, dois meses depois fui finalmente substituído, fui colocado no RISB, voltei a jogar futebol, um ano depois fui desmobilizado, repreendi a minha vida, conheci uma encantadora menina com quem casei em Setembro de 1968 e em Julho de 1969, era um homem abençoado pelo amor de mulher e filha. Nunca porém, esquecera as derradeiras palavras do rapaz.
    Em 1972, peguei na minha mulher e filha, meti gasolina no carro e fiz-ma à estrada, a caminho do Lobito, cidade portuária e quase geminada com a cidade de Benguela, onde eu fora admitido como funcionário dos CFB na construção do troço ferroviário entre essa cidade do Lobito e o Cubal.
    E quase desde a minha chegada, ouvi falar nela, dela, a Senhora de Branco. Dizia-se que aparecia nas noites do mês de Outubro, mas não tinha horas nem noites certas, na estrada que entre as duas cidades, toda trajada de branco, mas assim como a viam tão logo deixavam de ver. Parece, ou parecia, que procurava alguém que lhe desse notícias sobre um amor que morrera na guerra, e de quem estava noiva. Ela era filha única de um pai riquíssimo que desaprovava o amor da filha, e até para evitar prováveis fugas da filha de que ela já ameaçara os pais, fora-lhe imposta uma empregada africana com a estrita missão de a vigiar. Antes porém de lhe ter sido imposta essa vigilância, ela e o rapaz tinham entrado numa igreja e, aos pés da Virgem, tinham jurado amor eterno. Dizia-se até que ela jurara preferir a morte do que ser mulher de outro que não dele.
    A notícia da morte do seu amor na guerra, alegrara os progenitores e desesperara a filha. Os pais apresentavam-lhe pretendentes, mas ela repudiava todos. Os pais insistiam e levavam os eleitos a casa e ela sentia-se mal, quando uma vez, numa maior insistência do pai e numa situação de quase impossibilidade para ela protelar a negação, ela disse à sua criada que descesse e dissesse aos pais e ao pretendente que ela ia já.
    Tomou banho, penteou-se, perfumou-se, vestiu-se com o vestido de noiva que destinara para o seu casamento com o rapaz, tomou um frasco de comprimidos, deitou-se na cama, encostou a foto do seu amor ao peito e morreu.
    Claro que não era com esta precisão narrativa que se comentava este drama. Eram factos dispersos apanhados por aqui e por ali, fragmentos contados de uma maneira por uns, de outra maneira por outros, mas a essência do assunto era esta.
    Como referi no inicio e porque esta narração já vai longa, contarei a segunda parte se o Proprietário do blog o permitir.
    Um bom fim de semana para todos.

  8. A propósito do post abaixo apresentado com o título “Fantasma” neste blog, venho deixar, se o Arrumadinho permitir, o testemunho sobre um facto, ou factos verdadeiramente singulares de muito difícil explicação, ocorridos aquando da Guerra Colonial Ultramarina, vividos por mim, ou pelo menos desempenhando neles uma participação deveras significativa.
    Dado o teor verdadeiramente estranho dos acontecimentos, intitularei este testemunho de “acredite se quiser,” afiançando porém a total veracidade dos acontecimentos.
    Em fins de 1963, então com 23 anos de idade, eu combatia no Norte de Angola na então denominada Guerra Colonial para os interesses Portugueses, ou Guerra de Libertação para os Independentistas Africanos.
    A minha comissão de guerra efectiva sobre o terreno terminara ao fim de 14 meses e aguardava o meu substituto. Quando ele chegasse, tomaria o meu lugar e eu seria colocado no RISB, antiga Sá-da-Bandeira, até à desmobilização.
    O rapaz chegou numa tarde de sexta-feira do mês de Outubro desse ano, e desde a primeira vez que o vi, estranhamente despertou-me uma imensa simpatia, que, mais estranhamente ainda, seria por ele compartilhada. Era um rapaz alto e de figura atlética, muito calmo, afável e de extrema educação e irradiante simpatia. Como disse senti imediatamente uma grande empatia por ele, talvez, devido ao facto de mesmo sem que me tivesse apercebido, era um carácter que se coadunava perfeitamente com o meu.
    Como ele chegou nessa sexta-feira, eu só partiria na segunda-feira seguinte incluído na coluna militar que nesse dia se deslocaria ao Uíge. Nesses dias, portanto, acompanhei com ele e meti-o ao corrente do que por ali ocorria..
    Na Segunda-feira, o rapaz tomou o meu lugar ao lado do condutor auto do Unimog e partiu numa operação que já estava programada há uns tempos. De risco reduzido, resumia-se a um reconhecimento sobre uma zona pacificada a uns doze quilómetros dali, e eu preparei-me para tomar o meu lugar noutro Unimog, numa operação que me libertava do inferno dos últimos 14 meses de que se compusera a minha vida.
    No exacto momento em que a coluna que me transportaria para o Uíge se punha em marcha, ao atravessar a porta de armas, foi-nos pedido, com gestos precipitados e vozes misturadas e nervosas da soldadesca que se encontrava de serviço, que não podíamos partir porque algo de muito grave acontecera à patrulha que saíra em serviço de reconhecimento. Menos de cinco minutos depois os carros surgiram a grande velocidade levantando nuvens de poeira, e soube imediatamente que não seria tão cedo que sairia dali. Efectivamente, o rapaz que me viera substituir, vinha ferido de morte.
    Dentro do Unimog, quis a fatalidade que para acender um cigarro se debruçasse para diante, no preciso momento em que uma arma lá de dentro da selva fazia fogo sobre a viatura. Não foi ataque, não foi emboscada, não foi nada programado, simplesmente um tiro disparado ao acaso sem visar nada nem ninguém em particular, mas que entrando pela janela da viatura, passou pelo condutor auto e foi despedaçar o peito do rapaz. Enquanto o enfermeiro preparava os primeiros socorros, eu tive-o nos meus braços pressionando-lhe o peito despedaçado. Ele ergueu para mim os olhos, onde eu li uma imensa tristeza, e disse-me:
    – Diz-lhe que sempre a amei. Diz-lhe que a levo no coração. – A cabeça declinou e morreu.
    Fiquei, naturalmente admirado e estupefacto. Não esperava isso, essa confissão, ou melhor, confidência. Durante o nosso curto conhecimento faláramos de muita coisa, guerra, sobretudo, de futebol e de familiares, mas nunca faláramos de mulheres, o que era deveras para estranhar porque mulheres, era o tema quase exclusivo da malta. Mas não! Eu e ele nunca tínhamos falado de mulheres, e agora ele dizia-me aquilo.
    (continua de seguida)

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