A minha versão do Amor

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Ainda deve estar em exibição nos cinemas um filme com o título “A Minha Versão do Amor”. A história é simples e bonita. Um homem perde-se de amores por gente que mal conhece. Mas na verdade ele ama mesmo aquelas pessoas. Chega a apaixonar-se por uma convidada do seu próprio casamento no dia da boda. E na verdade há gente assim, que ama por tudo e por nada, que diz que ama porque sim, como há gente que se recusa a assumir o que a todos parece óbvio, sem que se perceba muito bem o porquê.

Muitos dizem que o “amo-te” está banalizado, e que já sai da boca à velocidade de um “passa aí a água”, e já não é sentido. Pois eu acho que o “amo-te” é uma palavra em vias de extinção, se calhar por lhe terem dado um peso que ela não tem de ter e um significado universal, que ela também não tem.

Cada pessoa tem o seu timing, cada pessoa conhece a forma como sente as relações, e, por isso, cada pessoa deve decidir quando é o tempo certo de dizer que ama alguém. Não é estúpido dizê-lo ao fim de um mês, ou de três, ou de dois anos. É só estúpido dizê-lo quando não se sente amor, como é estúpido não dizer que se ama apenas por medo, por receio do impacto da palavra, por temer a forma como isso pode afectar a relação.

Na verdade, só três pessoas me ouviram dizer “amo-te”. E das três vezes foi sentido. E todas tiveram o seu timing próprio. A primeira vez que o disse foi a alguém com quem nem sequer namorava. Era minha amiga, andávamos a sair num grupo de amigos há vários meses, e eu sabia que aquela era a pessoa, e sabia o que me ia no coração, apesar de ser miúdo. E a verdade é que tinha razão. Era mesmo amor. Não me lembro exactamente da primeira vez que lhe disse que a amava, mas na verdade essa vez terá sido sempre mais tarde do que devia e do que sentia.

Da segunda vez aconteceu o contrário. Foram meses e meses de sentimentos confusos, de uma relação atípica e cheia de avanços e recuos. E aí esperei. E aí tentei interpretar os meus sentimentos. Esperei para ver o que sentia e como esse sentimento evoluía. E quando tive a certeza, disse-o. Terá demorado um ano, não sei ao certo, mas disse-o com convicção. E uma vez mais sei que o disse de forma sentida.

A última vez foi a que me trouxe mais problemas, por tudo o que disse no início, pelo peso da palavra, pela responsabilidade que o sentimento acarreta. Mas eu tinha a certeza e disse-o, e disse-o com a certeza de que o sentimento não era ainda recíproco, e sem a certeza de que o impacto seria positivo. Mas era o que sentia, e por isso fui em frente. A reacção foi o contrário do que eu esperava. As palavras fizeram-na fugir de mim, deixaram-na em pânico, provavelmente porque nunca ninguém lhas tinha dito, provavelmente porque jamais ela sentira por parte de alguém um sentimento tão forte como o que eu sentia por ela. E pela terceira vez disse-o com convicção e certeza. Tinham passado umas três semanas desde o primeiro beijo. Para muitos é impossível amar-se alguém em tão pouco tempo, mas eu sempre refutei esses argumentos generalizados. Cada um sente à sua maneira, cada um tem os seus timings. Eu tenho os meus. A certeza de nunca me ter enganado dão-me confiança para dizer aquilo que verdadeiramente sinto.

Mas tão ou mais importante do que o dizer “amo-te” é o não dizer “amo-te”. Uma relação sem “amo-tes” é uma relação pobre. Gostar não é amar, adorar não é amar, amar é amar. E quando se ama diz-se “amo-te”. Não me venham com “I love yous”, não me venham com “és a pessoa da minha vida”, porque isso é uma treta, isso é mariquice, é infantil e absurdo. Amor é um sentimento adulto e é preciso ser-se crescidinho de cabeça para se poder amar.

De uma coisa eu tenho a certeza: quem nunca amou, quem nunca disse que amou, não pode ter um coração cheio.

1 Comentário

  1. Concordo com a Sónia, expressar o amor nada tem que ver com palavras, assim como nada tem a ver com Linguagem. Temos o centro da Linguagem bem distante de qualquer centro emocional que é tão mais primitivo. Por isso, fisiologica e evolutivamente, dizer que o amor se prende com a linguagem, é de uma precipitação enorme, além de renegar a personalidade e a invidualidade para um papel secundário. Existem áreas muito mais significativas para o desenvolvimento de uma relação do que a verbalização do mesmo. Tendo em conta este testemunho de que os "amo-tes" são indicadores de algo superior, espero que não os contabilize para medir a intensidade da relação. Só tornaria ainda mais desinteressante tudo o que se desenvolve entre duas pessoas e que é tão mais importante do que uma palavra aleatória que pode não corresponder ao conceito que julgas corresponder. O amo-te é apenas mais um compromisso social.

  2. Sem dúvida que "gostar não é amar, adorar não é amar, amar é amar." Amar é muito mais do que aquilo que se pensa, e é por isso que quando "acontece" marca e não se esquece. Adorei a tua racionalização sobre um assunto tantas vezes visto como confuso e controverso.

  3. Olá Arrumadinho. Antes de tudo, os meus parabéns pelo teu espaço.

    Tenho a dizer que estou plenamente de acordo com "A tua versão do Amor". Actualmente, muito se tem falado sobre a crise de valores, o dizer por dizer e não atribuir à palavra o seu verdadeiro peso e significado. O amor sente-se, deve ser compartilhado e devemos assumi-lo quando acharmos que é o momento certo.
    Estou numa relação há 5 anos e o meu parceiro raramente profere a palavra "amo-te". Ainda assim, a pessoa que amo nunca foi capaz de me dizer "amo-te", mas apenas "adoro-te". Contudo, os actos são a prova daquilo que nos vai na alma e no coração.
    Disse a palavra amo-te e já namorava há um ano e meio com o meu parceiro actual. A única resposta que eu obtive foi "eu também". Questiono-me: As pessoas não utilizam os vocábulos adequadamente, ou simplesmente têm medo de dizer o que lhes vai na alma? Apesar dos sentimentos serem fortes, dos actos falarem por si, a palavra "amo-te" torna tudo tão diferente.

  4. Arrumadinho, Pipoca!
    Sigo o Blog da Pipoca desde os tempos em que era solteira!
    "Assisti" ao desenrolar do vosso amor desde o início!
    Ainda bem que voltaste!!! Ainda bem! Identifico-me totalmente com os dois!
    Obrigada por este texto!
    S.

  5. Namorei 2 anos com uma pessoa que nunca expressava os sentimentos por palavras.
    Eu dizia "gosto de ti" e no máximo vinha um "eu tb" de volta.
    Durante meses senti o "amo-te" perto de sair dos meus lábios. Mas por medo, por saber como ele era, controlava o impulso! Quando namorávamos há 1 ano e 10 meses ganhei coragem e disse-o com toda a alma e coração.
    Silêncio do outro lado.
    Senti-me a desfazer em água como a Amelie.
    Só aguentei mais 2 meses… a desculpa era "acho ridiculo dizer amo-te".
    Para mim ele simplesmente não me amava.
    Agora amo outra vez e não tenho coragem de o dizer… Ainda…. 🙂
    S.

  6. concordo.

    nos actos, nos sentimentos e nas palavras "Tudo é importante (…) desde que verdadeiro e sentido".

    "De uma coisa eu tenho a certeza: quem nunca amou, quem nunca disse que amou, não pode ter um coração cheio." falta sempre qualquer coisa.

  7. Arrumadinho, concordo que há muita gente de 40 anos que não é crescidinho da cabeça, mas com 18 anos NINGUÉM é crescidinho de cabeça, completamente. Cientificamente até isso é impossível uma vez que o cortex frontal (que controla o centro das decisões e da razão) não está completamente desenvolvido.

    Quando somos teenagers achamos que somos muito adultos, mas na realidade não somos, apenas temos a ilusão de ser (uns mais que outros, claro).

    Anyway, isso não significa que não se ame, daí achar que é uma contradição o que disseste.

  8. Aos que "apanharam" uma contradição no que eu escrevi, queria clarificar uma coisa. Não foi à toa que eu escrevi que é preciso ser-se "crescidinho DA CABEÇA". Podia apenas ter dito "crescidinho", mas não era isso que eu queria dizer. Uma pessoa pode ter 40 anos e não ser crescidinho da cabeça. Como pode ter 18 e ser um adulto responsável e com as ideias no sítio. E era isso que eu queria dizer com o "crescidinho da cabeça". E embora fosse miúdo eu considerava-me adulto e sabia que estava pronto a dar aquele passo. Daí, não ser uma contradição.
    Outro comentador diz que eu estou errado quando digo que "quem nunca disse amo-te não pode ter o coração cheio". Uma vez mais, vão ler o que eu escrevi. Não foi isso. Eu escrevi que "quem nunca amou, quem nunca disse que amou, não pode ter um coração cheio". E mantenho. Quem nunca amou não pode ter um coração cheio. Porque eu não concebo amores sérios sem que se diga que se ama. Para mim, não faz sentido. E não vale a pena o discurso do "ah, os actos são mais importantes do que as palavras, e tal". Tudo é importante. Os actos e as palavras, desde que verdadeiras e sentidas.

  9. Eu tenho que concordar aqui com a Sónia. Ela apanhou-te numa contradição.

    Eu já disse "amo-te", mas apenas 1 vez na minha vida. Mas não me considero de coração mais cheio por o ter dito. Anyway, isso tem a ver com a forma como eu vejo o amor e como reajo perante o mesmo.

    Ser-se crescido é viver uma relação saudável, seja com "amo-te" ou não, não pisar o outro, dar espaço ao parceiro, não o esmagar para nos sentirmos poderosos. É compreender, ajudar, apoiar e dar na cabeça quando é preciso.
    Amar é apenas um verbo que, para mim, significa todas estas coisas. O que me interessa mesmo é a ligação que tenho com a minha parceira.

  10. Adoro o teu Blog, adoro os temas que abordas, nota-se que escreves com sentimento e é de louvar expores assim os teus pensamentos e as tuas emoções, isso é raro nos dias de hoje.
    As pessoas têm medo de expressar o que sentem, porque tem medo de ser magoadas.
    Daí refugiarem-se evitando dizer o verdadeiro "Amo-te".
    Mas de que vale evitar dizê-lo se já se sente?!
    O Amor é assim, quem ama tem sempre a possibilidade de ser magoada, mas definitivamente vale a pena o risco, porque o Amor tem também a parte boa de nos preencher a vida e nos fazer felizes.
    Por isso, não tenham medo de amar e de o demonstrar quer em actos quer em palavras, porque amar é maravilhoso, pode um dia terminar e ter coisas más, mas enquanto perdura é do melhor que a vida tem e é preferível arriscar.

  11. Quando dizes:"Mas tão ou mais importante do que o dizer "amo-te" é o não dizer "amo-te". Uma relação sem "amo-tes" é uma relação pobre. Gostar não é amar, adorar não é amar, amar é amar. E quando se ama diz-se "amo-te". .. Discordo totalmente. A relação não é mais pobre, do que uma em que dizes "amo-te" sempre que te apetece e quando te apetece. Apenas é diferente e nunca banalizada, porque os sentimentos são muito mais fortes que meras palavras…

  12. Eu penso que estás a banalizar a própria palavra quando generalizas e dizes que quem nunca disse que amou não pode ter um coração cheio. O amor tem tantas camadas e é tão complexo que nem sempre a verbalização do mesmo é uma confirmação do que quer que seja, assim como não é uma negação. É preciso ser-se crescidinho da cabeça para se poder amar e no entanto disseste que quando eras miúdo tinhas razão quando disseste que amavas alguém. Sendo assim não é uma questão de maturidade mas da forma de estar (e sentir) de cada um. E ter em conta que não há maneiras de estar (e sentir) melhores que outras é que, na minha opinião, é ser-se crescidinho da cabeça.

  13. Vamos agora ao comentário ao teu texto, agora que te li com mais atenção.
    Eu tenho medo da palavra "amo-te". A coisa mais dolorosa do mundo – dor essa comparável a uma faca que nos perfura e rasga o ombro (posso comparar ambas porque já as senti na primeira pessoa), é dizer "amo-te" e ouvir silêncio do outro lado.
    Disse-a no final de um ano de namoro, porque achava que se justificava e que correspondia 100% ao que sentia. Do outro lado, ouvi um silêncio…e até ao final dos dois anos da relação, nunca obtive nem sequer um "eu também". Por isso, não, não voltarei a dizer estas palavras. No máximo direi um "eu também", quando alguém mas disser um dia.

  14. Em primeiro lugar queria felicitá-lo por escrever bem, fluir as ideias e transparecer os sentimentos de forma clara e honesta ( parece-me ). Sigo o blogue da sua mulher Pipoca e daí vim ter aqui, confirma-se: vocês escrevem como poucos, têm o dom da escrita e do seu sentir.
    Em relação ao tema do post e pessoalmente falando considero difícil dizer Amo-te levianamente mas também se o sinto raramente o digo. Medo?,Cobardia?,Receio?, não sei mas é uma palavra muito forte. Tento substitui-la por outras. Cumpts 🙂

  15. Palavras leva-as o vento. Muito mais importante do que os vocábulos que se utilizam para expressar os sentimentos, são sem dúvida, os actos. Esses sim são a verdadeira prova daquilo que se diz.

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  16. A sociedade banaliza tudo. E depois já se diz sem sentido ou diz-se só porque sim. E acho que tudo isso tem a ver com a incapacidade de cada um se conhecer, saber o que quer e quem quer. Não há, de facto, um tempo certo para dizer "amo-te", desde que seja sentido. E para amar é preciso tempo, tempo para olhar para dentro, para olhar o outro e ter a certeza que ele já nos arrebatou os sentidos. As pessoas têm medo do "amo-te", mas do que o acham piroso, por muito que tentem convencer os outros do contrário. Porque amar exige trabalho, ocupar o ego de pensamento no outro e dizê-lo sem medo quando for o tempo certo do coração.

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