A cada viragem de ano, quase todos fazemos uma introspeção sobre aquilo que se passou no ano anterior e aquilo que gostávamos que acontecesse no novo ano. É quase uma necessidade interior, um reset, um “fiz muita merda, vamos lá ver se agora faço as coisas como devem de ser feitas”. Todos queremos ser melhores pessoas, todos ambicionamos a uma série de mudanças, mas o problema maior é que a grande alteração que é preciso fazer, essa, muito pouco gente está disposta a fazer, mesmo que ache que sim. Normalmente a força para isso esgota-se para aí a 17 de janeiro, e depois voltamos a ser quem éramos, com todos os nossos defeitos e problemas, aqueles que achávamos que iríamos conseguir modificar ou combater.
Isto é válido para coisas tão pequenas como começar uma dieta ou fazer exercício. Nos primeiros dias de janeiro os ginásios estão cheios, as marmitas de almoço são quase todas com cenas verdes e saudáveis, os carrinhos de supermercado estão cheios de frutas e legumes, mas depois chega-se ali à segunda ou terceira semana de janeiro e o ginásio passou de 4 vezes por semana para uma, as marmitas voltam a ter esparguete e os legumes ficam na banca, e ao carrinho de supermercado voltaram as batatas fritas de pacote.
Mas também é válido para coisas estruturais, até porque uma coisa está ligada com a outra. É muito fácil e confortável dizer “ah, eu não tenho força de vontade”, como se isso fosse uma coisa inalterável e inata. Não é. As pessoas que não têm força de vontade podem passar a ter, só depende delas e dessa tal mudança estrutural que muitas vezes temos de fazer se queremos que as coisas nos corram melhor na vida. É como dizer “eu não sou disciplinado”, ou “eu não sou organizado”, ou “eu sou preguiçoso”. Nós podemos ser mil e uma coisas, mas temos esse poder incrível que é o de conseguirmos alterar isso. A verdade é que a vida muitas vezes nos força a isso. Exemplo: as pessoas que dizem que não conseguem acordar cedo, mas têm um emprego que as obriga a sair da cama às 6h30, ou que têm um filho e deixam de dormir em condições durante meses.
Com o crescimento e o passar do tempo, aprendemos a dominar melhor a nossa vida e a corrigir aquilo que achamos que não está bem, ou que gostaríamos que estivesse melhor. Chama-se a isso maturidade. Por isso, e como também gosto de traçar os meus objetivos a cada mudança de ano, o que é que eu quero mesmo para 2017:
1. Mais foco: Adoro meter-me em coisas novas, fazer coisas diferentes, entrar em projetos novos, mas fazer mil coisas ao mesmo tempo, mas isso tem um preço. Não consigo estar verdadeiramente focado naquilo que é mais importante, e não consigo ser verdadeiramente bom em nenhuma das muitas coisas que faço. Em 2017 quero fazer menos coisas, e coisas melhores.
2. Pôr-me mais vezes em primeiro lugar: Por natureza, sou muito altruísta. Dou demasiado de mim, tento acudir a todos os fogos, estar lá para todas as pessoas que precisam, mas, uma vez mais, pago por mim. Muitas vezes sinto que os dias passam e não fiz nada por mim, não fiz nenhuma das coisas que sei que tenho de fazer para me sentir mais feliz. Isso obriga a um esforço e a ter de dizer “não” mais vezes. Direi.
3. Viver com menos: Quero que este seja o ano do minimalismo. Recentemente, desfiz-me de para aí metade das tralhas que andava a acumular há anos, dei metade da minha roupa, metade dos meus sapatos, deitei fora toneladas de merdas que não me faziam falta nenhuma e quero muito que este ano não acumule nada. Só quero ter aquilo de que preciso, e mais nada.
4. Criar: Tenho saudades de criar coisas. E este ano quero criar coisas novas. Lá está, não quero perder o foco, mas quero que um dos meus focos esteja numa coisa nova que vou criar. Pode ser um livro, pode ser um projeto novo, pode ser uma série, quero que seja uma coisa minha, à minha imagem, que tenha lá dentro a minha intuição e as minhas ideias.
5. Arriscar: Quando em 2014 deixei a “Sábado” e resolvi criar a NiT muita gente me deu os parabéns pela coragem. Ainda não me arrependi nem por um segundo desta decisão, que me fez perceber que a vida com riscos é muito interessante, e ajuda-nos a estarmos mais centrados e atentos. No fundo, dá mais pica. Este vai ser um ano em que vou correr muitos riscos, vou arriscar em várias coisas, com a consciência de que as coisas podem falhar e vou viver dias difíceis, ou podem resultar e vou sentir-me mais realizado.
6. Tempo com os filhos: Uma das vantagens de estar mais focado, mais organizado, é a de poder conseguir libertar-me do trabalho mais cedo, sem a necessidade de estar constantemente online. Isso pode permitir-me dedicar-me a uma das coisas que mais gosto na vida, que é a de ser pai. Em 2017, quero conseguir sair mais vezes cedo do trabalho e passar mais tempo com os meus miúdos. Muitas vezes eles acabam engolidos pela correria dos dias, e não são aquilo que deviam ser sempre: uma prioridade. Quero que sejam, muito mais vezes.
7. Benfica: Este ano, quero ser um benfiquista mais dedicado. Quero ir ver mais jogos fora, quero poder ir com a equipa ao estrangeiro, quero estar mais vezes no estádio. O ano passado só vi os jogos fora em Alvalade e Vila do Conde, mas esta época já igualei isso — fui ao Dragão e à Amoreira. Mas é para superar. Gostava de começar já em Guimarães, mas acho que não consigo.
É isso tudo menos o Benfica 🙂
Estou contigo no minimalismo. Já comecei em 2016 e o efeito é fantástico. Quanto menos coisas tenho mais tempo e liberdade tenho.
Agora sei sempre o que vestir e onde encontrar as coisas.
E como vai ser a corrida Arrumadinho? o Ironman fica (por agora) adiado ou é pa fazer?
Cuida-te e cuida dos teus! Sê feliz como bem entenderes. Aproveita e quando tiveres mais tempo, não digo que vás até Angola,mas vai até Itália ter com o Manuel. Um beijinho
E passar mais tempo com a esposa?
Que comentário tão infeliz, não sabe que eles se estão a separar?!
Com a excepção do Benfica (ahah) desejo-te muitas felicidades para 2017! Espero que continues a alimentar o blog, confesso que preferia o design antigo mas a escrita, que é o mais importante para mim, continua a fazer-me voltar!
Identifico-me tanto com a primeira meta! De facto, ter mil e uma coisas para fazer é aliciante e acho que já não conseguiria viver sem ser a mil à hora, em multitasking e em mil projetos ao mesmo tempo. Mas ao fim de algum tempo, a falta de foco paga-se. Sobretudo com o sentimento de não concretizar o suficiente. E de os projetos que temos não serem tudo aquilo que poderiam ser. Cada vez mais percebo a importância de definirmos bem o que são os nossos projetos…